MODISMOS - LÍNGUA PORTUGUESA por Sergio Nogueira
São palavras ou expressões usadas excessivamente, o que empobrece o estilo: a nível de, acontecer (=realizar), alavancar (negócios), impactar (a empresa), penalizar (=punir), sinalizar(=apontar, indicar), fazer colocações, detonar(=provocar, criar), contabilizar(=somar, totalizar), costurar (acordos), galera(=torcida ou plateia), praticar (preços ou taxas), receber (sinal verde, (pessoa) transparente, (dar) uma lição de vida...
ACONTECER: Não use no sentido de “fazer sucesso”: “O ator está acontecendo na novela das oito.” Em geral, prefira o verbo realizar: “O congresso se realizará (em vez de acontecerá) na próxima semana em Paris.” O melhor é só usar o verno acontecer no seu significado mais específico (=suceder de repente): “O desastre aconteceu há dois anos”; “Caso acontecesse uma derrota, a tristeza dos torcedores brasileiros seria imensa”. Acontecer dá sempre uma ideia de “inesperado, surpreendente, desconhecido”.
ALAVANCAR: Virou modismo. É usado excessivamente por políticos, economistas e empresários. Evite.
COLOCAR: Verbo usado excessivamente. Evite. Use apenas quando houver claramente a ideia de “lugar”: “Vai colocar o livro na estante”. Nos demais casos, devemos usar verbos mais precisos: “Vestir (e não colocar) a camiseta”; “Por (e não colocar) em prática”; “A galinha põe (e não coloca) ovos”; “Botar (e não colocar) água no feijão”; “Sou contrário à ideia que você expôs ou defendeu ou apresentou (e não colocou)”. E jamais usar o famoso !vou fazer uma colocação”. É melhor falar, afirmar, expor, argumentar, opinar... Exemplo inaceitável: “Mas o senador não respondeu à pergunta que eu coloquei (=fiz, formulei).”
CONTABILIZAR: Só em textos de “contabilidade”. Evite frases como: “A equipe de resgate já contabilizou 15 mortos.”
DEFINIR: Evite o uso impreciso e o uso excessivo. Definir a estratégia de combate é decidir “como” se pretende lutar, é descrever o modo, a forma de combate. Se a ideia for a de escolher entre duas ou mais estratégias, não estamos “definindo”, e sim decidindo, estabelecendo, escolhendo, determinando... definir não é “dar fim”: “Zezinho marcou o quinto gol, definindo(=fechando) o placar.” Contra o uso excessivo, devemos usar verbos mais precisos: “Já está decidido (em vez de definido) quem será o próximo adversário de Popó”; “A diretoria é que vai determinar (em vez de definir) qual será a multa”; “A polícia ainda não descobriu (em vez de definir) quem estava dirigindo o caminhão”; “O técnico ainda não escalou (em vez de definir) o time titular”; A CBF ainda não marcou ou fixou (em vez de definiu) as datas das finais”; “O PNDB ainda não indicou (em vez de definiu) o seu candidato”: “Ele ainda não escolheu (em vez de definiu) quem será seu sucessor”.
DELETAR: Só em textos de informática. É preferível apagar ou excluir.
DETONAR: Só se forem bombas. Não devemos usar no sentido figurado: “Foi isso que acabou detonando (=gerando, provocando) a crise do México”; “Foi a tia que detonou (=despertou) nela a paixão pela música”.
ELENCAR: Modismo. É um neologismo a ser evitado. “É melhor enumerar, listar”.
ENQUANTO: Indica “tempo simultâneo”. Exige correlação de tempo verbal: “Eu trabalho enquanto você dorme” (no presente); “A inflação cresceu enquanto a renda dos assalariados caiu” (no pretérito). Evite: 1. Falta de correlação dos tempos verbais: “Enquanto o diretor insiste (=presente) no projeto, os acionistas contestaram (=pretérito) as ideias básicas”; 2. A forma “enquanto que”: “Fumava enquanto que todos buscavam a solução para o problema”; 3. O modismo de usar enquanto com o sentido de “na função de” ou “sob o aspecto de”: “Ele, enquanto diretor, tem total responsabilidade sobre os fatos.”
Por Prof. Sérgio Nogueira