DÚVIDAS ETERNAS por Sérgio Nogueira
HÁ ou A?
Existem algumas palavras da nossa língua que só dão problema na hora de escrever. Isso acontece muito com as palavras que têm o mesmo som, mas grafia e significado diferentes.
Os exemplos de casos em que isso acontece são muitos, mas hoje vamos nos concentrar numa duplinha que nos atormenta: a diferença entre HÁ com agá e A sem agá.
A dica mais importante para entender a diferença entre eles é lembrar que HÁ com agá é verbo (forma do verbo haver) e por isso pode ser substituído por outro verbo. Assim, devemos escrever com agá: “HÁ dúvidas na prova”. Nesse caso, podemos substituir o HÁ pelo verbo existir: “Existem dúvidas na prova”. Na frase “HÁ muito tempo não o vejo”, também é com agá, pois podemos dizer: “Faz muito tempo que não o vejo”.
Já na frase “Estamos a dois minutos de casa”, o A deve ser escrito sem agá, pois não pode ser substituído por um verbo. Não tem sentido dizer: “Estamos faz dois minutos de casa” ou “Estamos existem dois minutos de casa”.
Trata-se da preposição A. Podemos usar quando nos referimos à distância ou a tempo futuro: “Estamos a vinte quilômetros do aeroporto”, “Ele chegará ao trabalho daqui a dez minutos”.
GOTEIRA NO TETO!
Falar a nossa língua materna, geralmente, não exige muito esforço. Agora, falar bem a nossa língua exige alguns cuidados. O problema é que para falar bem devemos estar sempre atentos. E essa atenção não se limita apenas a estrutura da língua. Devemos também estar atentos para não sermos redundantes. Ou seja, para não ficarmos repetindo desnecessariamente as ideias, o que é muito comum numa fala mais descontraída.
Onde está o problema da frase: Havia goteiras no teto do quarto?
Além do pinga-pinga que acaba com a paciência de qualquer pessoa, o problema dessa frase está no fato de que só existe goteira no teto. Não existem goteiras nas paredes e muito menos no chão, ou você consegue imaginar água pingando de baixo para cima? Assim, bastaria dizer apenas que “Havia goteiras no quarto”.
CIÚME ou CIÚMES?
Com frequência me perguntam se a palavra ciúme pode ser usada no plural: ciúmes. Será que existem dois ciúmes? Estranho, não é mesmo?
O caso é que a palavra CIÚMES existe sim. Você pode sentir CIÚME ou CIÚMES de alguém.
O que você não pode é misturar o singular com o plural e dizer que sente muito CIÚMES. Isso seria a mesma coisa que dizer que sente muito medos!
Assim, se você optar por empregar a palavra no plural: CIÚMES, não se esqueça de também colocar no plural o verbo, o adjetivo, o artigo... Diga: “ele tem uns CIÚMES do carro”! ou “ele tem um CIÚME do carro!”
Os CIÚMES do meu filho são exagerados ou O CIÚME do meu filho é exagerado? O mesmo acontece com a palavra SAUDADE. Podemos escolher emprega-la no singular ou no plural: SAUDADE ou SAUDADES. Só não pode deixar de fazer a concordância correta com o verbo, o adjetivo e o artigo.
“Senti muita SAUDADE ou muitas SAUDADES de você”. “As SAUDADES me deixam triste...”
ACEITO ou ACEITADO?
Qual é a forma do particípio que devemos usar quando o verbo apresenta duas opções? Vamos pegar como exemplo o verbo aceitar que tem duas formas corretas para o particípio: ACEITO e ACEITADO.
O problema é saber em que situações devemos empregar a forma irregular ACEITO e em que situações a forma regular ACEITADO.
Você, por exemplo, diria: “Ele tinha ACEITADO a recompensa” ou “Ele tinha ACEITO a recompensa”?
O correto, nesse caso, é “Ele tinha ACEITADO a recompensa”.
A regra é simples. Quando o verbo tem dois particípios, como o verbo aceitar, devemos usar a forma regular (aquela terminada em –ado ou –ido) com os auxiliares “ter” e “haver”. Por isso, o correto é: Ele tinha ACEITADO a recompensa.
Com os verbos auxiliares “ser” e “estar”, devemos usar a forma irregular ACEITO, como nas frases: “O seu pedido está ACEITO”. “Ele foi ACEITO pelo grupo.”
Fonte: Jornal O Sul/Dúvidas Eternas(snconsultoria@terra.com.br)