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A Oportunbidade para o Agro do RS
A Oportunbidade para o Agro do RS

A OPORTUNIDADE PARA O AGRO DO RS

Setor primário tem se adaptado às metas de redução dos gases de efeito estufa, defende vice-presidente da Farsul, e a COP28 traz mais uma chance para mostrar e discutir esse processo

 

O Brasil é uma potência agropecuária indiscutível, e o Rio Grande do Sul tem posição de destaque nesse cenário: nossa capacidade de produção é de fazer inveja aos olhos de outros países.  Somos eficientes em produzir, em um mesmo ano, de duas a três safras na mesma área.  Essas conquistas e esse crescimento são frutos de investimento em ciência, no uso de tecnologia de ponta e na capacidade de trabalho do produtor rural.  Prova disso é que a produção brasileira, entre 1977 e 2021, cresceu 464% diante de um aumento de apenas 80% de área ocupada.

 

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), até 2050 a população mundial alcançará a marca de 9,1 bilhões de pessoas.  Estima-se que, até 2030, quatro de cada cinco pessoas viverão em países importadores líquidos de alimentos.  Hoje o Brasil já é considerado o maior exportador líquido de alimentos do mundo.  Nossa responsabilidade diante da segurança alimentar nacional e internacional é gigantesca e crescente.

 

Nas organizações internacionais, a política global de alimentos e mudanças climáticas está vinculada à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), tendo como principal objetivo garantir que a produção de alimentos não seja ameaçada pelas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, mantendo a segurança alimentar mundial, sem afetar a resiliência ambiental.

 

A agropecuária possui capacidade única de mitigação dessas emissões.  Somente a atividade primária é capaz de evitar, remover e até mesmo estocar carbono nas suas ações.  Essa foi a conclusão do Grupo de Koronívia, criado no âmbito da UNFCCC, e que tem como objetivo promover agricultura sustentável no mundo, sendo que o preconiza o chamado Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), tecnologia brasileira, nascida no território gaúcho.  Que traz no seu escopo o reconhecimento único da agricultura, da pecuária e da silvicultura no combate às mudanças climáticas.

 

Produzir alimentos, energia, fibras e produtos especiais de origem agrária é a principal vocação dos gaúchos, que está refletida nas 35 cadeias produtivas organizadas apresentadas na Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2023.  Para garantir a produção sustentável, nos aliamos à ciência e produzimos programas capazes de tornar eficiente e replicável a Agricultura de Baixo Carbono.  Em nível nacional, o Plano ABC, promovido pelo governo federal e pela Embrapa entre 2010 e 2020, e que visava a organizar e a planejar ações para mitigar gases de efeito estufa, encerrou a primeira fase com 155% dos objetivos alcançados.

 

Atualmente o Brasil está na segunda fase do Plano ABC+, que visa adaptar o setor produtivo ao balanço negativo de carbono.  O programa possui metas ambiciosas desenvolvidas sobre oito eixos diferentes: recuperação de pastagens degradadas; plantio direto; sistemas de integração (lavoura, pecuária e floresta); sistemas irrigados; uso de bioinsumos; tratamento de dejetos animais; abate pecuário em terminação intensiva e florestas plantadas.

 

No Rio Grande do Sul, o alinhamento com as metas nacionais foi estabelecido pela Resolução da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação nº 01/2023, que institui o Plano Estadual para Adaptação a Mudanças do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária no Estado (Plano ABC+RS), com uma meta de mitigação de 75 milhões de dióxido de carbono equivalente (tCO2eq) até 2030.  Essa meta mitiga a emissão gerada pelas CINCO MAIORES CIDADES GAÚCHAS (Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria), neutralizando seu efeito de aquecimento no período de 10 anos.

 

Talvez seja difícil para leigos entenderem essas metodologias ou técnicas, mas atualmente todas elas já são a realidade das propriedades rurais.  Algumas ações de agricultura de baixo carbono foram adotadas no Rio Grande do Sul ainda na década de 1960, com objetivo de conservação do solo e aumento de produtividade, sem nunca perder o foco na resiliência ambiental e no desenvolvimento sustentável.

 

Para atingirmos a opinião pública nacional e consolidar nossa imagem internacional, precisamos nos comunicar melhor.  Mostrar que temos seis biomas no Brasil, sendo que cinco deles são responsáveis pela produção de 98% de nosso consumo interno e exportação; e mais, que temos o compromisso de resolver como nação os problemas que hoje assolam nossa floresta tropical e todo o bioma amazônico.

 

A COP28, em Dubai, (2023), é mais uma oportunidade de o setor agropecuário gaúcho e brasileiro comprovar e ratificar o compromisso quanto à segurança alimentar, mas principalmente de evidenciar à nossa sociedade, em especial aos nossos pares urbanos, que somos o exemplo mundial de produção sustentável, com total respeito aos preceitos ambientais.  O mundo e as COPs reconhecem o Brasil como responsável pela segurança alimentar global, cabe a nós consolidarmos este conceito junto a sociedade brasileira.

 

Fonte: Zero Hora/Caderno DOC/Domingos Velho Lopes/Diretor vice-presidente e coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Federação da Agricultura do Estado do RS (Farsul), em 03/12/2023.