"Teria de chover muito para que voltássemos ao normal", diz climatologista sobre queimadas e fumaça no país
Especialista do Cemaden explica que a prevenção do aumento dos casos depende de medidas, tanto do governo quanto da população
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Há semanas o brasileiro vê o sol mais vermelho e o céu mais cinza. A fumaça e o incêndio do centro e do norte do país se espalharam para o restante do Brasil. Até quem não se interessava por pautas climáticas já sabe das causas: a seca, as queimadas (motivadas pela ação humana) e as relações da sociedade com a natureza.
O climatologista e meteorologista coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, explica que a seca se arrasta no país desde janeiro de 2023. Agora, a situação é parecida e, segundo Marengo, é necessário observar como o fenômeno se apresentará nos próximos meses.
— As chuvas normalmente deveriam começar em outubro. Terá uma frente fria que possivelmente entre e produza algumas chuvas, mas não sei se isso vai diminuir o risco de queimadas – diz ele, completando: — Teria de chover muito para que se recupere toda essa situação e voltássemos ao normal.
Com as queimadas, vem a fumaça, que é carregada de partículas, fuligem e cinzas, que são transportadas pelo vento ao restante do país e podem gerar a chuva preta, como observado nos últimos dias em cidades gaúchas.
— Se não começar em outubro, podemos ter mais fumaça por alguns meses. Ou seja, tudo vai depender de como vai ser a estação chuvosa – projeta.
Adaptação
Para Marengo, a prevenção do aumento dos casos depende de medidas que precisam ser colocadas em prática, tanto pelo governo quanto pela população:
— Uma das causas desses extremos é justamente a emissão de gases de efeito estufa.
Por outro lado, reconhece ele, o governo está criando um plano de adaptação.
— Temos de pensar em medidas, porque não tem como combater o aquecimento global nem a mudança climática. Temos de nos adaptar. Uma forma, por exemplo, é previsão nacional do clima, emissão de alertas de desastres, preparação dos governos estaduais, municipais e federais para estações de incêndio mais comuns e frequentes nos próximos anos – diz Marengo, que também cita a necessidade de bombeiros especializados em incêndios florestais.
O cenário, segundo ele, é de apreensão para que o que está se vivenciando hoje não se repita nos próximos anos.
— Não podemos mais debater se mudança climática existe ou não. Já estamos sentindo os efeitos. Coisas como essas que estão acontecendo agora podem ser mais frequentes no futuro.
Jornal Zero Hora/ Vitor Netto—13/09/2024