Translate this Page




ONLINE
72





Partilhe esta Página

                                            

            

 

 


Líder Português Quer Rever Acordo Ortográfico
Líder Português Quer Rever Acordo Ortográfico

LÍDER PORTUGUÊS QUER REVER NOVA ORTOGRAFIA

 

PRESIDENTE REBELO DE SOUZA DIZ QUE PAÍS PODE MUDAR POSIÇÃO DE ADESÃO A ACORDO EM VIGOR EM PORTUGAL DESDE 2009.

CRÍTICOS PORTUGUESES VEEM NA REGRA ATUAL SUBMISSÃO AO BRASIL, COM ALTERAÇÕES COMO ‘ATOR’ EM VEZ DE ‘ACTOR’

 

Oficialmente, o último acordo ortográfico está em vigor em Portugal desde 2009, mas ainda enfrenta resistência em vários setores.  Na semana passada, o time dos descontentes recebeu um apoio de peso: o novo presidente português se mostrou favorável à revisão das regras.

 

Em visita a Moçambique – país lusófono que, assim como Angola, não ratificou as mudanças –, Marcelo Rebelo de Souza admitiu que a não adesão dos africanos pode permitir a Portugal também rever sua posição no acordo.

 

Na quarta-feira (11), a Associação Nacional de Professores de Português e vários membros da organização “Cidadão contra o Acordo Ortográfico” recorreram à Justiça pedindo a anulação da norma que disseminou o uso da nova ortografia no país.

 

No cargo há dois meses, Rebelo de Souza nunca escondeu sua contrariedade sobre o tema.  Na década de 1990, ele assinou um manifesto que reuniu 400 personalidades portuguesas contrárias ao acordo ortográfico.

 

Embora as críticas públicas tenham se abrandado, o livro de imagens de sua campanha à Presidência, “Afectos”, não adota as mudanças ortográficas nem no título.

 

Em “O Acordo Ortográfico Não Está em Vigor” (ed.Guerra & Praz), o embaixador e professor de direito internacional Carlos Fernandes diz que o acordo fere também princípios jurídicos e, por isso, não deveria ser adotado.

 

Segundo Fernandes, além de as regras anteriores não terem sido oficialmente revogadas, o governo português tampouco cumpriu trâmites legais obrigatórios para a entrada em vigor dos novos parâmetros da língua.

 

O debate sobre uma possível revisão do acordo – há quem defenda até um referendo – provocou uma “caça às bruxas” ortográfica.  Vários políticos tiveram currículos, biografias e livros vasculhados em busca de indícios de que são contrários às mudanças na escrita.

 

CRÍTICAS AO BRASIL

Embora tenha sido assinado em 1990 pelos Estados de língua oficial portuguesa, o acordo precisa passar por ratificação interna em cada país para entrar em vigor.  Brasil, Portugal, São Tome e Príncipe e Cabo Verde já promulgaram a decisão.

 

Já Angola e Moçambique – que concentram a maioria dos falantes do português depois do Brasil – ainda não têm data para ratificar.

 

O português é a quinta língua mais falada do mundo, com cerca de 280 milhões de falantes, dos quais 202 milhões estão no Brasil, 24,7 milhões em Angola, 24,6 milhões em Moçambique e 10,8 milhões em Portugal.

 

Entre os críticos portugueses e africanos, as alterações são encaradas como submissão aos desejos do Brasil.  A língua oficial do país é várias vezes pejorativamente chamada de “brasileiro”.

 

Um dos motivos da discórdia é o fim das consoantes mudas presentes em várias palavras de Portugal.  Com o acordo, prevaleceu a versão brasileira.  Por exemplo: actor vira ator e óptimo, ótimo.

 

Segundo o Ministério da Educação brasileiro, as mudanças afetaram cerca de 0,8% dos vocábulos do Brasil e 1,3% dos de Portugal.

 

GOVERNO DEFENDE

O governo de Portugal segue o acordo ortográfico, e vários ministros saíram em defesa das regras.

 

Considerado o pai do acordo e um dos mais influentes linguistas lusitanos, Malaca Casteleiro também tem defendido sua aplicação.

 

O primeiro-secretário do Brasil em Lisboa, André Pinto Pacheco, afirmou que “a embaixada acompanha com atenção o assunto, procurando esclarecer o Estado e a  opinião pública de Portugal sobre a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no Brasil”.

 

Diretor do setor de lexicografia e lexicologia da Academia Brasileira de Letras, Evanildo Bechara minimizou as críticas do presidente português e ressaltou o ritmo da implementação do acordo na comunidade lusófona.  “É um processo irreversível.”

 

“Uma alteração ortográfica não é para a geração que a fez, mas para uma geração futura”, afirmou Bechara.  O uso da nova ortografia é obrigatório no Brasil desde 1º de janeiro deste ano.

 

Fonte:  Folha de S.Paulo/Giuliana Miranda (Colaboração para a Folha, em Lisboa) em 15 de maio de 2016.