Translate this Page




ONLINE
4





Partilhe esta Página

                                            

            

 

 


A Mecânica do Amor: Texto de Júlio Conte
A Mecânica do Amor: Texto de Júlio Conte

TESTOSTERONA À PROVA

 

Os homens no dia de hoje, ganância, corrupção e sua relação com o universo.  Esses são os temas discutidos em A MECÂNICA DO AMOR, novo texto  de Júlio Conte que estreia nesta sexta-feira, às 20h, no Teatro Renascença.

 

Misturando comédia e drama, a narrativa foi escrita na mesma época de SE MEU PONTO G FALASSE com o objetivo de ser a versão masculina da peça.  No entanto, Conte acredita que a montagem foi além do homem contemporâneo para abranger as questões éticas e a relação do homem com a testosterona e as expectativas sociais sobre à masculinidade.  “Escolhi o viés hormonal porque a testosterona é o hormônio  a guerra, da luta, da conquista e quis mostrar como isso impacta no caráter e na ética do homem.”

 

A montagem se inicia em uma oficina na qual dos mecânicos, Jambolão e caneta, buscam entender sua posição no mundo, as mulheres, a internet e o contemporâneo em meio à rotina inconstante de trabalho.  Esperançosos e simplistas, os dois sujeitos se mostram sonhadores e cheios de expectativas dentro de um universo em que é preciso provar ser másculo.

 

O ponto alto do roteiro surge quando um amigo da infância de Jambolão aparece em busca de ajuda.  Ricky, um político investigado, traz consigo seu colega lobista, Anselmo.  Ao cruzar os caminhos de homens de diferentes classes sociais, a narrativa propõe ir além dos estereótipos e elucidar o íntimo masculino com a política e o cotidiano como pano de fundo.

 

Neste aspecto, a ansiedade masculina é posta em pauta sob um espectro social, cuja necessidade absoluta e irrefutável de vencer entra em conflito com o pavor do fracasso.  A visão simples e irreverente dos dois mecânicos se contrasta com a dignidade corrompida do político e do lobista, expondo as falhas humanas e as imposições da sociedade ao homem enquanto portadores do cromossomo Y.  “Temos um paradoxo entre a cultura e o conhecimento em que os mecânicos possuem a sabedoria popular, a inteligência intuitiva, e os políticos são pragmáticos, estratégicos e mais objetivos”, relata Conte.

 

A partir de cada personagem, a montagem aborda os quatro estágios do masculino partindo da esperança, da ingenuidade, da noção de pertencimento e conquista a qualquer custo.  Cabe a Jambolão e a Caneta exporem a vertente mais amorosa, ingênua e divertida do homem, e a Ricky e a Anselmo o lado cerebral e tentativa de amortecer os sentimentos.  Fabrizio Gorziza e Lucas Sampaio são responsáveis por interpretar os quatro personagens da obra.  “Sempre quis fazer essa peça por que reunir os quatro homens na mesma cena traz um aspecto teatral e contemporâneo”, conta o diretor.

 

Em diálogos que questionam o comportamento masculino sem tabus e moralismo, o diretor procurou reverter a lógica dos tópicos escolhidos para as narrativas masculinas.  “Se valoriza muito o enredo de ação e aventura, o homem herói que passou por uma superação, mas quis mostrar que essa testosterona também pode ser uma fonte de ligação, envolvimento e apego.”  A tendência masculina de não expressar emoções e demonstrar sentimentos é exposta por outro viés.  A MECÂNICA DO AMOR é a restauração da capacidade de fantasiar que os homens devem ter e que precisam desenvolver”, afirma Conte.

 

Ao debater temas como corrupção e investigações políticas, Conte relembra que a prática teatral está atrelada à política desde os gregos.  “Por ser um espaço democrático, o teatro deve abarcar todas as questões e cutucar as feridas, assim como fizemos no período da ditadura com BAILEI NA CURVA.”  Para o diretor, também cabe ao teatro falar também sobre as expectativas para o futuro “nessa fase de descrença, é preciso uma voz que fale sobre os sonhos, pois é disso que somos feitos, é hora de o teatro voltar a sonhar com algo melhor para todo mundo”.

 

 

Fonte:  Jornal do Comércio/Luiza Fritzen em 31 de julho de 2016.