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Simbolismo
Simbolismo

SIMBOLISMO

 

No final do século XIX, uma reação contra o materialismo e o positivismo da geração realista fez surgir um movimento de revalorização da vida espiritual. Nascia o movimento poético chamado Simbolismo.

 

A VALORIZAÇÃO DA MUSICALIDADE

Na última década do século XIX, a literatura enfatiza novamente o subjetivismo e a introspecção, voltando a interessar-se pela dimensão psicológica e transcendental do homem. Para isso, despreza a palavra exata, a descrição objetiva e explora o poder de sugestão da linguagem, dando origem a um movimento poético conhecido como Simbolismo.

 

Essa transformação no campo da linguagem poética pode ser percebida por estes versos do poeta Cruz e Souza:

 

“Busca palavras límpidas e castas,

Novas e raras, de clarões ruidosos,

Dentre as ondas mais pródigas, mais vastas

Dos sentimentos mais maravilhosos.

 

Enche de estranhas vibrações sonoras

A tua Estrofe, mas majestosamente...

Põe nela todo o incêndio das auroras

Para torna-la emocional e ardente.

 

Derrama luz e cânticos e poemas

No verso, e torna-o musical e doce,

Como se o coração nessas supremas

Estrofes, puro e diluído fosse.”

 

Em vez de querer a palavra exata ou o termo que melhor descreva um objeto, como no Parnasianismo, o eu lírico incita o leitor a tornar o verso “musical e doce” e o poema, “emocional e ardente”, como se o próprio coração fosse diluído nas estrofes. Temos aqui a valorização do ritmo, das sensações, das sugestões, do indefinível.

 

O movimento simbolista é de origem francesa e inicia-se com a obra As flores do mal (1857), de Charles Baudelaire. Suas principais características são:

 

Preocupação formal que se revela na busca de palavras de grande valor conotativo e ricas em sugestões sensoriais; a realidade não é descrita, mas sugerida.
Comparação da poesia com a música.
A poesia é encarada como forma de evocação de sentimentos e emoções.
Frequentes alusões a elementos evocadores de rituais religiosos (incenso, altares, cânticos, arcanjos, salmos, etc.), impregnando a poesia de misticismo e espiritualidade.
Preferência por temas subjetivos, que tratem da Morte, do Destino, de Deus, etc.
Enfoque espiritualista da mulher, envolvendo-a num clima em que predomina o vago, o impreciso e o etéreo.

 

O SIMBOLISMO EM PORTUGAL

A poesia simbolista tornou-se um meio de sondagem do mundo interior do “eu” lírico, e essa introspecção gerou tendências diversas nos muitos poetas do Simbolismo português, levando tanto a um intimismo saudosista como à angústia diante do destino e da morte. A obra que marca o início do Simbolismo em Portugal é Oaristos, de Eugênio de Castro, publicada em 1890.

 

Os principais poetas do Simbolismo português foram: Camilo Pessanha, autor de Clepsidra, Eugênio de Castro, autor de Oaristos, e Antônio Nobre, que escreveu Só.

 

CAMILO PESSANHA

Camilo Pessanha é considerado o grande no me do Simbolismo português e publicou um único livro – Clepsidra, palavra que indica um tipo de relógio de água. Nesse título, aliás, fica sugerido um dos temas constantes de seus poemas – a fugacidade da vida, que passa irremediavelmente como o fluir eterno das águas.

 

O SIMBOLISMO NO BRASIL

No Brasil, o Simbolismo começou em 1893, com a publicação de dois livros de Cruz e Souza: Missal (poemas em prosa) e Broquéis (versos). Além de Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens – os poetas simbolistas mais importantes -, devem ser lembrados Pedro Kilkerry, Dario Veloso e Emiliano Perneta.

 

POR QUE O SIMBOLISMO NÃO SUPLANTOU O PARNASIANISMO?

O Parnasianismo foi um estilo literário que abusou da linguagem ornamentada e artificial. Apesar disso, vigorou durante muito tempo, desaparecendo só depois da década de 1920 por causa das críticas violentas dos modernistas. Por que o Parnasianismo durou tanto?

 

Segundo o crítico Alfredo Bosi, o “Parnasianismo é o estilo das camadas dirigentes, da burocracia culta e semiculta, das profissões liberais habituadas a conceber a poesia como ‘linguagem ornada’, segundo padrões já consagrados que garantem o bom gosto da imitação”. Essa situação fez com que a rebuscada linguagem parnasiana fosse considerada uma espécie de língua literária “oficial” o Brasil, praticada por todos que se diziam literatos e respaldada ainda pelo prestígio da Academia Brasileira de Letras, fundada no final do século XIX, onde tiveram assento os principais poetas do Parnasianismo. Por isso, até hoje, em alguns lugares, falar bem é sinônimo de “falar difícil” e fazer poesia é escrever de modo rebuscado e empregar palavras que ninguém usa...

 

Restrito a poucos escritores e limitado em sua divulgação, o Simbolismo não conseguiu penetrar em círculos literários mais amplos; não pôde, assim, exercer o papel que tivera em outros países, onde abriu caminho para inovações que levaram à poesia moderna.

 

CRUZ E SOUZA

Filho de ex escravos e sentindo na pele o estigma do preconceito racial, Cruz e Souza transformou em poesia seus dramas e angústias. Herdou do Parnasianismo o cuidado com a linguagem, mas destacou-se pela exploração criativa dos aspectos sonoros das palavras, obtendo efeitos que transmitem grande musicalidade a seus versos, como, por exemplo:

 

“Velho vento vagabundo!

No teu rosnar sonolento

Leva ao longe este lamento,

Além do escárnio do mundo.”

 

A vida miserável e sofrida, a doença da esposa, a dor de ser negro no Brasil escravocrata – tudo isso faz nascer a angústia existencial que marca sua obra, em poemas que ficaram famosos:

“Quando será que toda a vasta Esfera,

Toda essa constelada e azul Quimera,

Todo esse firmamento estranho e mudo.

 

Tudo que nos abraça e nos esmaga,

Quando será que uma resposta vaga,

Mas tremenda, hão de dar de tudo, tudo?!”

 

Além de Missal e Broquéis, Cruz e Souza deixou os seguintes livros: Faróis, Últimos sonetos e Evocações; com Virgílio Várzea, escreveu Tropos e fantasias.

 

ALPHONSUS DE GUIMAREAENS

Diferindo do Simbolismo vibrante de Cruz e Souza, a poesia do mineiro Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) expressa uma atitude reflexiva e melancólica sobre praticamente um único tema – a morte.

 

Criando uma atmosfera indefinida, vaga, plena de sugestões, escreveu sobre a morte da amada, para sempre lembrada:

 

“Quando morreste, o sol era morto, e ainda agora

Para mim se prolonga essa noite de guerra...

Acaso vens com o teu olhar de eterna aurora

Aclara-la outra vez, vindo de novo à terra?

 

Vejo-te a imagem tão destacada no fundo

Deste meu sonho, que é como se eu não sonhasse...

Cheio de nostalgia estelar de outro mundo,

Tem as mágoas de um astro o palor da tua face.”

 

A desesperança transparece a cada verso, e as sugestões do mundo lembram-no da instabilidade da existência:

“A dor imaterial que magoa o teu riso

Tênue, pairando à flor dos lábios tão de leve,

Faz-me pensar em tudo que é indeciso:

Luares, pores-do-sol, coisas que morrem breve.”

 

O seu espiritualismo faz com que se volte para a religião e o misticismo, sobretudo no que eles têm de piedade, submissão e sofrimento:

“Em teu louvor, Senhora, estes meus versos,

E a minha Alma aos teus pés para cantar-te,

E os meus olhos mortais, em dor imersos,

Para seguir-te o vulto em toda a parte.”

 

A obra poética de Alphonsus de Guimaraens compõe-se de: Setenário das dores de Nossa Senhora, Câmara ardente, Dona Mística, Kiriale, Pauvre lyre (Pobre lira), Pastoral aos crentes do amor e da morte. Na edição completa de sua obra, publicada em 1960, foram incluídos os inéditos Escala de Jacó, Pulvis, Nova Primavera (tradução) e Salmos da Noite.

 

AUGUSTO DOS ANJOS

Embora sua obra revele raízes simbolistas, Augusto dos Anjos (1884-1914) é um poeta extremamente original, ocupando um lugar à parte em nossa literatura.

A originalidade de sua obra advém do uso de um vocabulário quase totalmente tirado das ciências biológicas e manejado habilmente para falar de seus temas mais frequentes – a morte, o nada, a decomposição da matéria.

Declarou-se “cantor da poesia de tudo quanto é morto” e, explorando criativamente a sonoridade de palavras estranhas em textos poéticos, conseguiu criar surpreendentes efeitos rítmicos. Sua obra poética está reunida no livro Eu, publicado em 1912.