Pintura rupestre em Lascaux, França.
A ARTE DA PALAVRA
A arte é um dos principais meios de expressão dos sentimentos, crenças e valores dos seres humanos. E a literatura, oral e escrita, é uma de suas mais importantes manifestações.
Muito antes que a primeira palavra fosse escrita, a literatura já existia na sua forma oral, em histórias e cantigas. Alguém sentiu necessidade de comunicar uma experiência que poderia ter significado para o grupo: assim deve ter nascido o impulso de contar histórias, uma prática que ainda persiste pelo mundo afora.
Não há povo que não se orgulhe de suas histórias, tradições e lendas. A produção literária de um povo faz parte do conjunto de atividades a que damos o nome de cultura – e a capacidade de cria-la é o que nos distingue dos outros seres.
Dentre as criações culturais do homem, a arte está sempre presente em qualquer grupo socialmente organizado – seja em uma ou em várias de suas manifestações, como a dança, a pintura, o canto, o desenho.
A arte tem sido usada como um dos principais meios de expressão dos sentimentos, crenças, valores e emoções dos seres humanos, sejam quais forem suas raízes culturais. Entre suas formas de manifestações, a literatura, oral e escrita, tem a palavra como material de expressão.
A LINGUAGEM
A transmissão do conhecimento e as manifestações artísticas não se realizariam se o homem não tivesse a capacidade de criar formas e linguagem. É a linguagem, falada e escrita, que possibilita a comunicação, não só entre as pessoas de uma mesma época, mas também entre as gerações através do tempo.
O homem pré-histórico começou a desenhar nas paredes das cavernas para reforçar as histórias que desejava contar. Esses desenhos foram o primeiro passo para a escrita que viria milhares de anos depois e antecederia em outros milhares de anos a criação do alfabeto, um sistema de escrita fonética simplificada que pode ser definido como um recurso para representar os sons da fala.
Mesmo depois da invenção da escrita, permaneceram formas de expressão oral da literatura. Em tempos em que a alfabetização era rara e os livros, privilégio de um punhado de leitores, as histórias eram mais ouvidas que lidas, como as cantadas por jograis na Idade Média ou encenadas em teatro de rua.
LITERATURA E REALIDADE
A literatura é uma forma artística de representação da realidade. Por isso, não se deve confundir o conteúdo de uma obra literária com fatos da vida real. No texto, o escritor cria uma outra realidade – a artística, que não pode ser analisada como se estivéssemos diante do nosso mundo concreto.
A EXPLORAÇÃO CRIATIVA DA LINGUAGEM
Todo texto literário é resultado de um trabalho de linguagem feito com o objetivo de produzir determinados efeitos. Observe como o poeta Oswald de Andrade trabalha a linguagem neste poema:
Relógio
As coisas são
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
As horas
Vão e vêm
Não em vão”
Poesias, Rio de Janeiro: Agir.
Numa leitura em voz alta, percebemos que o poema não só falou do relógio, como fez o ritmo dos versos lembrar um relógio. Nesse texto, a forma dos versos é tão importante quanto o seu conteúdo. Além disso, observe que a palavra vão, no último verso, deixa de ser forma verbal e, com a preposição em, ganha valor adverbial: em vão = inutilmente.
Ao explorar o ritmo dos versos, a forma e o conteúdo das palavras, o poeta constrói um objeto artístico.
FORMAS E GÊNEROS LITERÁRIOS
Os textos apresentam-se em verso ou em prosa. Essas são as duas formas que as obras literárias podem ter. Quando ao conteúdo, elas costumam ser agrupadas em três gêneros: narrativo, lírico e dramático.
Gênero Narrativo
O texto é narrativo quando apresenta fatos que se ligam no tempo e no espaço por meio da movimentação de personagens. O encadeamento dos fatos narrados forma o enredo.
Em toda narrativa há alguém que conta o que acontece: o narrador. Ele pode ser uma das personagens ou um observador externo. Lembre-se de que o narrador não é o escritor, mas uma criação deste.
As ações das personagens acontecem n o tempo. Numa narrativa, podem existir o tempo cronológico e o tempo psicológico.
O tempo cronológico é o tempo exterior, marcado pela passagem das horas, dos dias, etc. Observando as indicações do narrador, percebemos que os fatos do enredo podem ser organizados numa sequência de antes e depois, isto é, numa sucessão temporal. Nem sempre esses fatos são narrados na sequência temporal em que aconteceram, mas sempre podemos reconstituir essa sequência.
Além do tempo cronológico, podemos perceber o tempo psicológico, que é o tempo interior, aquele que transcorre dentro das personagens: não pode ser medido ou calculado. É o tempo da memória, das reflexões.
Narrativas em verso
A epopeia, ou poema épico, é uma longa narrativa em verso acerca de um assunto grandioso e na qual sobressaem personagens heroicas, quase sempre representantes de uma coletividade. Sua origem é muito antiga: o poema épico Gilgamesh foi escrito pelos sumérios, povo da Mesopotâmia, mais de 2 mil anos antes de Cristo.
Os mais famosos poemas épicos da literatura ocidental são a Ilíada e a Odisséia, atribuídos ao poeta grego Homero, que teria vivido no século IX a.C., e a Eneida, escrita pelo poeta latino Virgílio (70-19 a.C.).
Na história da literatura em língua portuguesa, merece destaque a obra Os Lusíadas, epopeia de Luís de Camões.
Narrativas em Prosa
Romance – É uma narrativa longa, com várias personagens que vivem diferentes conflitos ou situações dramáticas e cujos destinos se cruzam. Pode contar diferentes tipos de história. Por isso, há o romance policial, o histórico, o de aventuras, etc.
Novela – É uma narrativa menos abrangente que o romance, composta de uma série de situações encadeadas, sempre articuladas em torno de uma personagem central.
Conto – É a narrativa mais breve e condensada de todas. Concentra-se em torno de uma personagem e desenvolve apenas uma história.
Fábula – É uma pequena narrativa com uma mensagem de fundo moral. As personagens das fábulas são, geralmente, animais que representam tipos humanos.
Gênero Lírico
Dizemos que um texto pertence ao gênero lírico quando nele predomina a expressão do eu. Esse eu que fala no texto projeta seu mundo interior, expressando seus sentimentos, desejos e emoções. Portanto, no texto lírico, que pode ser escrito em prosa ou verso, ocorre a manifestação plena de uma individualidade.Bom dfia,
Embora o amor seja um dos temas mais frequentes, o texto lírico pode falar da angústia da vida, da dor da morte, do prazer de viver, da indignação diante de uma in justiça social etc. O que importa considerar é a postura de quem escreveu. Se é filtrado pela emoção do autor e traz a expressão de subjetividade, trata-se de um texto lírico.
Assim como não devemos confundir o narrador de um texto com a pessoa do escritor, não devemos confundir o “eu” que fala em um poema com a pessoa do poeta que o escreveu. Para marcar bem essa diferença, o “eu” do texto costuma ser designado com as expressões “eu lírico” e “eu poético”. Mas isso v aria muito mesmo entre os críticos literários, que nem sempre usam essas expressões.
O importante é que você tenha consciência dessa distinção.
GÊNERO DRAMÁTICO
Em nossos dias, a palavra drama é muito usada para uma situação comovente, que envolve sofrimento ou aflição. Dizemos “o drama das crianças abandonadas”, “o drama dos sem-terra”, “o drama das vítimas das guerras”. Em sua origem, porém, a palavra drama, que vem do grego drama, significava “ação” e era usada com relação à arte teatral. E é isto que caracteriza o gênero dramático – o fato de apresentar a encenação de um texto. No espetáculo teatral, raramente há um narrador como num romance ou conto. São os atores que tomam a palavra e se apresentam diante dos espectadores, interpretando as personagens e fazendo evoluir a história.
Formas de expressão dramática
Entre as várias formas de expressão dramática, destacam-se:
Tragédia – Apresenta ações que despertam terror e piedade, a fim de impressionar os espectadores e alertá-los sobre as paixões e os vícios dos homens.
Comédia – Apresenta ações que tem por objetivo criticar a sociedade e o comportamento humano por meio do ridículo. O riso seria o efeito buscado pelo autor para provocar nos espectadores a reflexão sobre o que se passa no palco. Tanto a tragédia como a comédia foram criadas na Grécia antiga.
Farsa – É um tipo de peça teatral que surgiu por volta do século XIV. Em geral, é breve, tem poucas personagens e pretende provocar o riso explorando situações engraçadas e ridículas da vida cotidiana, apelando para a caricatura e os exageros.
Auto – Breve peça de conteúdo religioso ou profano, geralmente em verso, que se originou na Idade Média. A característica marcante do auto é seu conteúdo simbólico, com os atores representando não seres humanos, mas entidades abstratas, geralmente de caráter religioso ou moral (o pecado, a hipocrisia, a luxúria, a avareza, a bondade, a virtude, etc.).
Drama – Atualmente , “classifica-se de drama toda a peça teatral caracterizada por seriedade, ou solenidade, em oposição à comédia propriamente dita”.
OS ESTILOS ARTÍSTICOS
Cada artista tem seu estilo, seu jeito individual de se expressar. Mas, ao observar a produção artística ao longo da história, percebemos que, apesar das diferenças individuais, os artistas apresentam pontos em comum em certas épocas, o que nos permite agrupá-los num estilo de época.
Quando novas formas de expressão são criadas, dois estilos podem coexistir algum tempo, até que um deles acabe por predominar e o outro desapareça.
Na literatura pode ocorrer também uma retomada de traços de um estilo antigo, que pode servir de fonte de inspiração para outras gerações. Se essa retomada resulta numa simples repetição, temos imitações. Se significa ponto de partida para uma recriação, temos novas obras de arte.
A publicação de uma obra inovadora pode ser o marco inicial de um estilo ou movimento literário. Outras vezes, é um fato histórico que, por suas consequências culturais, passa a servir de marco para um novo estilo.
Estilos literários portugueses e brasileiros, desde suas origens até hoje. Esses estilos costumam ser assim delineados:
Portugal Brasil
Trovadorismo – 1189-1434 (Literatura Informativa) – 1500-1600
Humanismo – 1434-1527 Barroco – 1600-1768
Classicismo – 1527-1580 Arcadismo – 1768-1836
Barroco – 1580-1756 Romantismo – 1836-1881
Arcadismo – 1756-1825 Realismo/Naturalismo – 1881-1893
Romantismo – 1825-1865 Parnasianismo – 1882-1893
Realismo – 1865-1890 Simbolismo – 1893-1922
Simbolismo – 1890-1915 Modernismo – 1922-1945
Modernismo – de 1915 em diante Pós-Modernismo – de 1945 em diante