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O Eterno (e Necessário) Mediador
O Eterno (e Necessário) Mediador

O ETERNO (E NECESSÁRIO) MEDIADOR

 

O jornalismo já morreu, foi velado sem devoção e enterrado sob lápide anônima dezenas de vezes.  Ressuscitou com igual frequência.  Os próprios profissionais fizeram e fazem isto.  É histórico o alerta sobre o fim do jornalismo quando a imprensa, no século 19, adotou a entrevista como prática.  Um editor chegou a escrever:  “Pode ser o conluio de um politiqueiro farsante com um farsante repórter”.

 

Hoje, reafirma-se a necessidade do jornalismo toda vez que alguém posta conteúdo de forma irrefletida em redes sociais.  Sem base profissional, o leigo deixa-se levar por seus preconceitos e difunde inverdades e boatos.  Este leigo, no entanto, garante a necessidade do exercício do jornalismo.  De um lado, por sua inabilidade na difusão de fatos e opiniões.  De outro, por colocar o dedo na moleira da imprensa.  De suas críticas, saem os elementos para encurralar a autocensura e as tentativas de sobrepor o interesse dos empresários aos dos públicos de seus veículos.

 

A forma de agir dos que trabalham a notícia torna-se, portanto, fundamental para a garantia da democracia.  Serve de alerta o golpe de 1964, sustentado por uma mídia a compartilhar interesses com os que passaram a dominar o país.  A palavra básica, hoje, é ética.   Há outras – honestidade, prudência, respeito, sagacidade, sensatez... – que precisam estar presentes no cotidiano, em especial no dos responsáveis por registrá-lo.

 

A sociedade muda.  O jornalismo não pode transformá-la se empresários, gestores e profissionais permanecerem aferrados a velhos paradigmas.  A tecnologia, neste sentido, não é boa nem má.  Falta compreender que a mudança é feita por pessoas valorizadas por bons salários e dedicadas à causa.  E qual a causa do jornalismo?  Um personagem do filme O Vento Será Sua Herança dá a resposta:  “O jornalismo existe para afligir aqueles que vivem no conforto  e para confortar aqueles que vivem na aflição”.  Não se trata de pregar uma revolução.  Trata-se de reafirmar o papel transformador de uma atividade de interesse público:  o próprio jornalismo.

 

Fonte:  ZeroHora/Luiz Artur Ferraretto (Professor do curso de Jornalismo da UFRGS) em 04/12/2015