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O Topo da Montanha: de Katori Hall
O Topo da Montanha: de Katori Hall

UMA CHANCE PARA A PAZ

 

Ingressos esgotados poucos dias depois do início da divulgação oficial. É com essa expectativa que o público porto-alegrense receberá a comédia dramática O TOPO DA MONTANHA, em que Lázaro Ramos e Taís Araújo – casal fora dos palcos que está na TV em Mister Brau – vivem, respectivamente, Martim Luther King (1929-1968) e a camareira Camae, que confronta o ideal pacifista do importante líder pouco antes da morte dele. Quem imagina o encontro é a dramaturga americana Katori Hall, autora da peça de 2009 dirigida, aqui, pelo próprio Lázaro. Theatro São Pedro no fim de semana.

 

ENTREVISTA LÁZARO RAMOS

 

 

Que Luther King você interpreta?

É um Martin Luther King que tenta aproximar o mito de todos nós. Quando falamos de uma pessoa que realizou um ato transformador de tamanha grandeza, parece que é algo distante Alguns acreditam que os grandes atos são os que transformam o mundo, mas, às vezes, as pequenas ações diárias têm um poder muito grande. Quando você mostra esse cara que fez tantas coisas importantes e, ao mesmo tempo, está cheio de defeitos e dúvidas, isso estimula quem assiste o espetáculo.

 

 

Em que medida as ideias dele servem para reflexões atualmente?

Muitos dos textos que dizemos (em cena) parecem ter sido escritos ontem ou hoje. É muito importante tentar estabelecer um diálogo, falar sobre direitos, saber da importância do afeto apesar de tanta luta que tem que haver. Não sei se isso é bom ou triste. Ao mesmo tempo em que a peça se torna muito atual, também nos lembra que estamos caminhando a passos de formiga no que diz respeito à luta por igualdade.

 

 

De que maneiras o espetáculo dialoga com o público?

É um espetáculo que consegue acolher todas as plateias. Uma pessoa branca que não pensa sobre esses assuntos se sente acolhida naquele ambiente, às vezes incomodada por algumas reflexões levantadas, mas, ao mesmo tempo, sai estimulada para participar dessa luta. Acho que isso ocorre muito por causa do humor, que tem esse poder de aproximação. Ao mesmo tempo, a plateia negra que tem visto o espetáculo ao longo desses quase dois anos de trajetória se sente representada, sente que o discurso que está sendo dito ali faz parte de sua vivência, de suas dores e alegrias. É um privilégio ter encontrado esse texto e poder estar em cena com ele.

 

ENTREVISTA TAÍS ARAÚJO

 

 

Por que a história de Luther King ainda encanta a todos?

O tema da não violência, que era a grande bandeira dele, toca muito as pessoas. Fala em diálogo, em olhar para o outro, exercitar a empatia, a paciência, o entendimento de que o outro é diferente de você. Só que tudo isso exige esforço e prática. Ele falava a favor de amor, mas não de uma maneira ingênua. Era uma maneira muito sábia de agir politicamente, de alcançar conquistas.

 

 

Como você percebe sua personagem, a camareira Camae, que estabelece um verdadeiro embate de ideias com Luther King?

Ela se contrapõe a todo o ideal dele, todo o discurso de uma vida; Será que valeram a pena essas escolhas? Será que ele não deveria abrir mão da não violência e partir para a violência? Será que essas marchas dão em alguma coisa? A grande riqueza desse texto é que provoca reflexões sobre vários assuntos. Apesar de não ter uma resposta pronta, leva a pensar o quanto olhar para o outro com afeto pode ser uma solução quando estamos perdidos. Olhar para o outro e ver que a posição individualista caducou, deu no que o mundo é hoje. Então, a peça induz a refletir sobre o quanto o outro é importante na sua vida;

 

 

O fato de a dramaturga Katori Hall ser jovem, mulher e negra oferece uma perspectiva singular?

Totalmente. Ela optou por tratar um assunto superdenso e espinhoso por meio da comédia. É muito inteligente de sua parte, porque a comédia agrega e relaxa. Quando está todo mundo bem entregue, achando que é aquilo ali, ela vai e pega pelo coração. Chama para uma reflexão de maneira muito agregadora, quase carinhosa. É co mo se dissesse: “Senta aqui, vamos conversar, escuta as minhas questões”.

 

Fonte: ZeroHora/2º Caderno/Fábio Prikladnicki (fabio.pri@zerohora.com.br) em 02/06/2017.