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A Reinvenção do Trabalho
A Reinvenção do Trabalho

A REINVENÇÃO DO TRABALHO

 

A MÁ NOTÍCIA: um algoritmo vai roubar seu emprego.

A BOA: cabeças privilegiadas estão pensando em algo para você fazer

 

No futuro próximo, o trabalho que você executa será feito por uma máquina. Não se assuste. Algumas das mais brilhantes cabeças do universo estão pensando em formas úteis, divertidas e lucrativas de ocupar o seu tempo.

 

Motoristas, advogados, professores, jornalistas, escritores, operários, engenheiros e médicos. Boa parte das atividades que fazem girar a economia e dão sustento às famílias da Terra está desaparecendo ou passando por mudanças radicais.

 

O uso em larga escala de robôs, de algoritmos e de equipamentos dotados de inteligência artificial transforma drasticamente o mercado de trabalho. Novos tipos de atividades surgem, mas é bom estar preparado: o número de empregos disponíveis será bem menos no futuro. A tal ponto, que o próprio conceito de trabalho está em xeque.

 

— Ainda é cedo para saber, mas talvez, enquanto as máquinas trabalham, tenhamos a opção de sermos transportados para uma realidade virtual, um matrix –, arrisca o neurocientista alemão Konrad Kording, professor da Universidade da Pensilvânia.

 

A ofensiva de gigantes do Vale do Silício dá o tom da velocidade da mudança. O Google já colocou nas ruas os primeiros carros que não precisam de motorista e a Amazon promete mudar a forma de fazer compras ao lançar um supermercado sem a presença de atendentes nem a necessidade de passar as compras no caixa. Um sistema de câmeras registra toda vez que um produto é retirado da prateleira e cobra diretamente no cartão de crédito do cliente.

 

Autor dos bestseller SAPIENS e HOMO DEUS, o israelense Yuval Harari provoca: “Se o presidente Trump está preocupa em manter empregos, não deve construir um muro na fronteira com o México, mas sim na divisa da Califórnia”; É lá que nasceram e que florescem empresas como Google, Apple e Facebook, gigantes da transformação digital.

 

— Sempre houve, em alguma medida, esses fenômenos de avanço tecnológico, extinção de alguns empregos e criação de outros. A diferença é que agora isso acontece em uma escala exponencial. Não podemos olhar para o passado e achar que vai ser igual – alerta Rosa Alegria, futurista e cofundadora do Núcleo de Estudos do Futuro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

 

Já forte na agricultura e na indústria, a presença de máquinas autônomas chega ao comércio e à prestação de serviços – onde estão empregados 70% dos trabalhadores no Brasil e no Rio Grande do Sul.

 

A velocidade dessa transformação preocupa autoridades mundiais. Se por um lado traz a promessa de ganhos expressivos de produtividade, também há risco da ampliação das desigualdades de renda. O relatório The Future of Jobs, apresentado neste ano(2018) no Fórum Econômico Mundial, em Davos, estima que em menos de dois anos haverá queda de mais de 7,1 milhões de empregos graças a mudança no mercado. Outros 2 milhões de vagas serão criadas em áreas relacionadas a tecnologia e computação. No saldo, 5 milhões de empregados a menos.

 

A consultoria EY, uma das mais importantes do planeta, é mais pessimista. Estima que até 2025, um em cada três postos de trabalho deve ser substituído por tecnologia inteligente em países desenvolvidos. Projeção da Federação Internacional de Robótica indica que até 2019, mais 333 mil robôs passarão a atuar diretamente no setor de serviços em vagas antes ocupadas por humanos.

 

Na visão de especialistas, em poucas décadas, só terão sobrevivido aqueles empregos que exigem criatividade e uma boa dose de empatia.

 

— Em essência, qualquer trabalho burocrático, que envolva a aplicação de regras será, mais cedo ou mais tarde, realizado por máquinas – afirma o futurista italiano Federico Pistono.

 

Em Canoas-RS, Genildo Bello, técnico em mecatrônica e elétrica automotiva, é um exemplo da transição que profissionais vão precisar passar para garantir a empregabilidade em um mundo com cada vez mais máquinas. Depois de uma década trabalhando na área de manufatura da AGCO, foi promovido para o setor de pós-vendas da empresa. Aliou o conhecimento técnico para oferecer um serviço altamente especializado: tira dúvidas e resolve problemas que possam surgir com o manuseio do equipamento. Nenhuma máquina, por enquanto, é capaz de estabelecer um relacionamento pessoal e entender tão bem a angústia do cliente do outro lado da linha. Por enquanto.

 

DICIONÁRIO TECH

  

Algoritmo

Uma sequência de códigos que ajuda os computadores a interpretar uma grande quantidade de dados e, a partir dessas informações, tomar decisões e resolver problemas.

  

Big Data

É grande volume de dados virtuais que são gerados a cada segundo. O processamento e a análise dessas informações, feito por máquinas, facilita a tomada de decisões.

 

Inteligência Artificial

É a capacidade que máquinas e computadores têm de encontrar soluções sem a necessidade de intervenção humana.

 

Robótica

É a ciência que estuda a elaboração, a montagem e a programação de robôs capazes de realizar trabalhos de maneira autônoma, pré-programada, ou por meio de controle humano.

 

OS DESAFIOS DO RS

 

Para se adaptar à mudança no mundo do trabalho, o Rio Grande do Sul vai enfrentar desafios extras. Dados da Fundação de Economia e estatística (FEE) mostram que cerca de 75% dos trabalhadores formais do Estado têm até o Ensino Médio completo e quase metade tem mais de 40 anos.

 

— Na próxima década devemos assistir a um transbordamento deste movimento de automação para o setor de serviços, sobretudo para aqueles de menor qualificação, coo comércio e atividades administrativas. Algo similar ao que vem sendo observado nas agências bancárias. A inserção de trabalhadores mais velhos e com menor escolaridade em novas atividades é mais desafiadora – explica a economista Cecilia Rutkoski Hoff.

 

Para entrar nessa onda planetária, o Rio Grande do Sul vai precisar de investimentos expressivos. Não somente em políticas que ajudem a enfrentar o desemprego estrutural que pode surgir como reflexo da maior presença de máquinas, mas em educação.

 

Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai e diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria, afirma que a reforma do Ensino Médio é importante nesse novo contexto.

 

— Temos feito um enorme esforço de inclusão da formação técnica. É algo que os países centrais já vêm fazendo há muito tempo. Automação tem um papel importante na formação de competências essenciais do futuro. Precisamos andar mais rápido – diz Lucchesi.

 

APOSENTADORIA FORÇADA

 

Em estudo da Universidade de Oxford, matemáticos calcularam a probabilidade das profissões desaparecerem com o avanço da inteligência artificial. Conclusão: vagas que envolvem tarefas repetitivas caminham para a extinção. Aquelas que exigem imaginação e estratégia prometem durar um pouco mais.

 

— Operador de Telemarketing…………. 99%

— Operador de Máquinas………………. 99%

— Caixa de Supermercado …………….. 98%

— Analista de Crédito……………………. 98%

— Jardineiro………………………………. 95%

— Carteiro………………………………… 95%

— Motorista de Táxi……………………… 89%

— Guarda de Segurança……………….. 84%

— Programador………………………….. 48%

— Economista……………………………. 43%

— Ator…………………………………….. 37%

— Bombeiro………………………………. 17%

 

EU, ROBÔ

 

Quantidade de robôs instalados para cada 10 mil empregados na indústria. O ranking de 42 países traz o Brasil na 39ª posição.

 

— 1º Coreia do Sul………………………. 631

— 3º Alemanha…………………………… 309

— 4º Japão……………………………….. 303

— 7º Estados Unidos……………………. 189

— 23º China………………………………. 68

— 34º México……………………………… 31

— 35º Israel……………………………….. 31

— 38º Argentina…………………………… 18

— 39º Brasil..……………………………… 10

— 42º Índia.………………………………… 3

 

 

ALGORITMOS FARÃO O NOSSO TRABALHO MAIS RÁPIDO, MAIS BARATO E MELHOR”

 

Entrevista com Federico Pistono – Futurista

 

Autor do livro OS ROBÔS VÃO ROUBAR SEU EMPREGO, MAS TUDO BEM: COMO SOBREVIVER AO COLAPSO ECONÔMICO E SER FELIZ, o, cientista italiano Federico Pistono afirma que, para evitar uma crise, sem precedentes os governos vão precisar mudar a maneira como cobram impostos.

 

O título do livro é, sem dúvida, instigante. Trata-se de um bom nome para atrair leitores ou realmente é possível ter o trabalho roubado por um robô e ser feliz?

O título é mesmo muito bom (risos). Mas, sim, eu realmente acredito que a automação está evoluindo para um cenário cognitivo, o que, até então, costumava ser o último refúgio para a humanidade. Em escritórios de advocacia, por exemplo, boa parte do trabalho de pesquisa será feita a partir da análise de big data. Os algoritmos têm acesso a uma grande quantidade de livros e informações atualizadas que não podem ser memorizadas por pessoas. Em resumo, fazem isso melhor e mais rápido do que qualquer humano. Em essência, qualquer trabalho burocrático, que envolva a aplicação de regras será realizado por máquinas. Algoritmos que farão isso mais rápido, melhor e mais barato.

 

Mesmo trabalhos que exijam grande capacidade de discernimento?

Contratação de pessoas, por exemplo, será feita por máquinas no futuro. Uma maneira fácil de evitar sexismo ou machismo. A melhor forma de escapar desses preconceitos é deixar que um algoritmo decida por você. As máquinas já tomaram boa parte do nosso trabalho. Os robôs são uma pequena parte disso. É o que menos preocupa.

 

Como vamos sobreviver em um cenário com cada vez menos empregos?

Se não mudarmos o sistema não poderemos ter uma economia sustentável. Temos profissões típicas de classe média que estão desaparecendo. Contadores, advogados e até mesmo cirurgiões vão ser substituídos por computadores. E é importante frisar: isso já começou. E desaparecendo essa classe média, não há impostos suficientes para manter o Estado. Precisamos, essencialmente, mudar a maneira como cobramos impostos.

  

Qual a alternativa?

Hoje cobramos impostos a partir do trabalho. O trabalho é a coisa mais taxada do planeta. Mais do que dividendos, do que transações financeiras e mais do que lucros das empresas de alta tecnologia. Se a base para manter a sociedade continuar sendo taxar o trabalho, teremos um problema. Simplesmente porque não teremos tanto trabalho no futuro como temos hoje.

 

Mas de quem devem ser cobrados impostos?

Cobremos impostos de pessoas e empresas que criam valor. Se a maior parte da riqueza é gerada por máquinas autônomas, então cobremos deles. Se a riqueza for gerada por startups que se tornaram bilionárias e têm apenas 15 empregados, então vamos taxar o lucro delas. Se a maior parte das economias se basear em transações financeiras, então vamos garantir que elas sejam cobradas. É mais simples do que parece. Se você não tem mais trabalho, não significa não ter mais economia.

 

Seria suficiente para evitar um colapso econômico?

Assim haverá dinheiro suficiente para dar suporte e assistência para queles que não têm trabalho. Amazon não está pagando impostos agora. Isso é um problema ou não é? Não adianta discutir a velocidade da automação. Isso continuará sendo cada vez mais rápido.

 

Algum país já está à frente nessa revisão de modelo?

Alguns já estão conseguindo manter um bom equilíbrio entre economia plana e o livre mercado. A Noruega, por exemplo, está bem preparada para ajustar a rede de proteção social.

 

 

Fonte: Zero Hora/Cadu Caldas (cadu.caldas@zerohora.com.br) em 18/03/2018