NO RITMO DA SOCIEDADE
Ao som da música eletrônica, a coreógrafa Maguy Marin, com mais de 40 anos de trajetória, discute em BIT a sociedade contemporânea. A companhia de dança francesa foi a grande atração internacional do festival Porto Alegre em Cena, que encerrou sua temporada em 26 de setembro.
A coreógrafa parte de um termo bastante comum da informática, o BIT, para falar sobre o comportamento humano. A companhia é considerada pela crítica especializada uma das mais importantes da dança contemporânea mundial. Seus trabalhos são bastante imagéticos, e o bailarino-intérprete é a força motriz da obra. Suas coreografias, a exemplo dos espetáculos MAY B e QUO QU’IL EM SOIT, que já estiveram no Brasil, misturam linguagens cênicas.
Maguy, no início dos anos 1970, estudou em Mudra, escola fundada por Maurice Béjart na Bélgica. Alguns alunos criaram o grupo Chandra, que foi uma espécie de laboratório inaugural de suas trajetórias – o elenco incluía Maguy Marin. O grupo buscava intérpretes abertos para múltiplas expressões.
Em 1978, Maguy funda sua própria companhia, que hoje está localizada em um subúrbio perto de Lyon, em uma velha carpintaria que ela comprou em 1997. O local faz parte dos espaços chamados de alternativos na França, criados através da vontade dos artistas para suprir a falta de locais de trabalhos. Esses locais foram reconhecidos e apoiados desde 2000 pelo Ministério da Cultura e instituições.
“O local onde alguém trabalha influencia a criação. Portas abertas a qualquer hora do dia e da noite, o ambiente, contatos com a população, outros artistas e estudantes em volta é fundamental”, comenta a artista, que completa: “A situação agora na França está se tornando muito difícil e confusa. Arte e cultura estão assimiladas aos hobbies e ao turismo. Os artistas têm de responder a uma demanda de um número maior de pessoas. Isso influencia o trabalho deles, porque, se eles não tocarem uma multidão importante, o suporte financeiro pode ser comprometido”.
O espetáculo BIT é representado por bailarinos de diversas idades. “Não faço distinção de idades. Eu trabalho com pessoas que são todas artistas. Cada uma a tua com sua energia e potencial, e eu gosto das diferentes maneiras de como respondem a um mesmo propósito”, comemora a coreógrafa.
A interação entre os bailarinos acontece a partir de suas mãos, representando os pontos de contato e as formas como as pessoas se relacionam no mundo hiperconectado de hoje.
O espetáculo chegou à cidade em parceria com a programação do France Danse Brasil 2016. Depois do Rio Grande do Sul, o espetáculo seguiu para São Paulo e Belo Horizonte. Pela primeira vez no Brasil, France Danse marcou presença no País em sua 16ª edição, com 16 companhias francesas, mais de 70 apresentações em 15 cidades. O festival francês é realizado desde 2000 ao redor do mundo.
Fonte: Jornal do Comércio/Caderno Viver/Michele Rolim em 25/09/2016.