Por que os pais devem se preocupar com a problemática dos adolescentes
Fabiana Sparremberger, colunista do “Em nome do filho”, explica o papel dos pais, da escola e da sociedade na vida dos adolescentes.
Que atire a primeira pedra quem estiver fazendo a parte que lhe cabe.
Quando há algum pai ou criança se queixando de problemas com os pecurruchos e há genitor de adolescente por perto, o que se ouve é "espera só ele ficar grandinho para saber o que é, realmente, dor de cabeça com um filho. Aproveita enquanto você ainda pode tê-lo embaixo das suas asas". Nos últimos dias, adolescentes foram protagonistas no tiroteio da Praça Saturnino de Brito, que acabou em dois feridos, e de uma manchete sobre a ação dos "bondes" de São Gabriel, grupos esses, envolvidos nos três assassinatos que a cidade registrou neste ano.
"Família, escola, sociedade e órgãos oficiais têm parcela de responsabilidade, já que formam a rede que deveria proteger crianças e adolescentes"
Quando questionadas sobre os fatores que estão levando muitos adolescentes para o crime, autoridades e especialistas no assunto apontam quem está errando: família, escola, sociedade e órgãos oficiais têm parcela de responsabilidade, já que formam a rede que deveria proteger crianças e adolescentes. Lemos explicações e mais explicações — a maioria, profundas e consistentes — sobre as causas que estão conduzindo nossos filhos à violência e ao crime.
Os pais, culpados pela ausência em casa e com dificuldade de estabelecer limites e regras, transferem muito da responsabilidade para a escola. A escola, ciente de que o papel de proporcionar esses aportes necessários ao desenvolvimento da personalidade dos pequenos é dos pais, lava as mãos e entrega os alunos problemáticos ao conselho tutelar, que os devolve à família. Políticas educacionais capazes de atrair a atenção e manter esse público interessado na escola também são raras e ineficientes. A sociedade civil até encampa iniciativas louváveis, porém muito aquém de abarcar o tamanho da problemática.
"Temos belas análises do cenário, mas falta de um pai para assumir a responsabilidade para si."
O que quero dizer com tudo isso? Temos belas análises do cenário, mas falta de um pai para assumir a responsabilidade para si.
Se a família estiver com a consciência tranquila de que está educando os filhos sendo o exemplo que eles necessitam para a formação da personalidade e do caráter, poderá cobrar fortemente que a escola faça a sua parte.
Se as escolas estiverem tranquilas — porque desenvolvem estratégias de modo a combater a criminalidade em sua base, acolhendo e incentivando os alunos que apresentam dificuldades de se relacionar e dominar os conteúdos — também têm legitimidade para cobrar da família, dos governos e da sociedade uma solução.
Se as autoridades que precisam zelar pelos adolescentes e as entidades que se preocupam com esse público tomaram o problema para si e estão empenhadas, com afinco, em criar projetos e iniciativas que contribuam — de forma definitiva e significativa — à resolução do problema, deverão exigir que a família faça a sua parte.
Que atire a primeira pedra quem estiver fazendo a parte que lhe cabe com toda a dedicação que o assunto merece. Percebo muitas pedras e poucas consciências tranquilas. Seguir centrados em encontrar causas e responsáveis para a problemática dos adolescentes em conflito com a lei não vai tirá-los da orfandade de proteção.
Fabiana Sparremberger
Fonte: Agência RBS
Pesquisa/Postagem: Nell Morato