O DESAFIO DO IDEB RUIM
As médias do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2015 são insuficientes – no Ensino Médio, o pior resultado em matemática desde 2005 e estagnação em português.
As notícias da educação não são boas. A cada dois anos, o Ministério da Educação encara a realidade do ensino brasileiro divulgando o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que estabelece médias de rendimento dos estudantes do país, dos Estados, dos municípios e por escolas. As médias de 2015 são insuficientes – no Ensino Médio, o pior resultado em matemática desde 2005 e estagnação em português. Nos dois ciclos do Ensino Fundamental, houve leve avanço.
A piora em matemática assusta muito, pois essa disciplina é essencial para áreas como engenharia e tecnologia, decisivas para o desenvolvimento do país. De acordo com o Sistema da Educação Básica (Saeb), o resultado obtido pelos estudantes brasileiros em matemática classifica-os como incapazes de fazer cálculos simples de probabilidade. E menos de 9% deles escapam dessa sentença ao fracasso exatamente no período de formação decisivo para o encaminhamento à vida acadêmica ou ao exercício de uma atividade profissional.
A barreira da matemática é a maior evidência de que o ensino brasileiro precisa de reformas urgentes, que incluam desde a revisão da grade homogênea de matérias do Ensino Médio até a formação de professores, passando pela escola de tempo integral e pela disseminação de experiências diferenciadas. Em setembro/2016, ganhou destaque na imprensa um projeto de uma escola pública de Minas Gerais, pelo qual os professores visitam as famílias da comunidade escolar para resgatar estudantes faltosos ou que abandonam a escola. Trata-se de uma ação simples, com efeito poderoso na redução da evasão e da repetência.
A reforma do ensino médio, já em tramitação no Congresso, é apenas um passo na longa caminhada que o Brasil precisa fazer para qualificar o seu sistema educacional. Mais importante dos que as alterações legislativas, porém, é mudar a cultura: não podemos mais aceitar como verdade uma expressão cunhada para degradar ainda mais o ensino público, pela qual “O professor finge que ensina e o aluno finge que aprende”. Na maioria dos casos, muitas vezes mal pagos e trabalhando em condições precárias, se esforçam muito para ensinar, e a maioria dos alunos oriundos da parcela mais carente da população vai para a escola exatamente para buscar uma alternativa de ascensão social.
O Ideb mostra que não estamos alcançando esses objetivos – o que nos deixa na obrigação de trabalhar ainda mais para atingi-los. Em educação, toda má notícia tem que ser encarada como bom desafio.
Fonte: ZH Editorial/Marcelo Rech em 11/09/2016.