LUTA CONTRA OS LUGARES-COMUNS.
A desconstrução dos estereótipos está entre as principais reivindicações de quem batalha pela igualdade de gênero. Resistentes, lugares-comuns que estigmatizam as mulheres ainda são frequentes em telenovelas (com a empregada doméstica negra), comerciais (a gostosa de biquíni servindo cerveja ao homem) e programas de humor a personagem burra, alvo de deboches). Ideias preconcebidas também são reproduzidas a todo instante em círculos de conversas, na família ou no trabalho, e essa intolerância, mais ou menos evidente, passa muitas vezes despercebida pelos falantes.
- Um dos aspectos mais cruéis é que a gente acaba reproduzindo mesmo sendo vítima desses padrões – lamenta Gabriela Rondon, pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e gênero, de Brasília.
Gabriela reconhece que o tema tem sido mais debatido, principalmente com o potencial multiplicador das redes sociais – a página de Carol Rossetti supera 260 mil seguidores no Facebook – o que permite impulsionar a conscientização e as ações por parte do público.
No início deste ano, a Skol alterou uma propaganda depois que cartazes com a frase “Deixei o não em casa” geraram repúdio ao serem interpretados como apologia ao estupro e foram pichados (mulheres ofendidas com as peças acrescentaram “e trouxe o nunca”), em uma contestação que viralizou na internet. Com as denúncias de consumidores, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) abriu uma representação contra a campanha.
- O que modifica o cotidiano são as pequenas coisas: questionar as certezas e as formas de humor que não são engraçadas, mas violentas. Temos de provocar as instituições a tomar posição – avalia Gabriela.
Para Sâmia Bomfim, militante do coletivo Juntas!, que combate a violência sexual na Universidade de São Paulo (USP), é preciso intensificar, nas escolas, o debate sobre a desigualdade entre homens e mulheres. Os pais, em casa, têm papel fundamental a ser desempenhado, promovendo divisão igualitária de tarefas, sem delegar o cargo de “ajudante” na cozinha ou na faxina apenas às meninas. Ao poder público, cabem iniciativas para promover a conscientização, e, à mídia, estímulo a programas educativos. Quem defende as causas das mulheres, ressalta a ativista, também luta contra um forte estereótipo.
- É muito difícil. As pessoas ainda veem a feminista como a mulher louca, descabelada e sem blusa que vai matar os homens – descreve Sâmia, que saúda o engajamento de personalidades como as cantoras Beyoncé, Pitty e Valesca Popozuda. – Elas desconstroem o estereótipo, a ideia maluca do feminismo, e dão uma cara mais natural ao movimento.
Fonte: ZeroHora/Larissa Roso em 30/08/2015