LITERATURA CONTRA EFEITO SÉPIA
O Caderno de Sábado explora dois grandes nomes da poesia brasileira, em entrevistas com os octogenários Ferreira Gullar e Augusto de Campos; o suplemento trata do conformismo dos intelectuais a partir do livro de Michel Maffesoli e Hélène Strohl.
Tudo pulsa como sempre: a poesia de Augusto de Campos, a poesia de Ferreira Gullar, a literatura produzida no Rio Grande do Sul e a polêmica emanada de Paris. Tudo pulsa conforme os gostos de cada um. Há quem se apegue ao passado como a uma nostalgia paralisante. Só no passado haveria intelectuais, obras-primas, polêmicas e cultura com “C” maiúsculo. Ilusão. Efeito sépia. Tudo se tornou mais leve, mas não menos pulsante. Gilles Lipovetsky, em “Da Leveza”, mostra que tudo, da tecnologia à arte, ficou menor, mais ágil e menos empolado. Os artigos culturais de antigamente abusavam do que no jornalismo se chama de “nariz de cera”: excesso de introdução. A Wikipédia e o Google acabaram com o artigo enciclopédico fornecedor de informações básicas. Hoje, o desafio é maior: ser criativo e inovador. Nada mais.
Intelectuais costumam se caracterizar pela negatividade. Pessimismo presente, hipervalorização do passado e, no caso do marxistas (ainda existem), otimismo quanto ao futuro. O passado teve o seu brilho. O futuro certamente não será pior. Por que seria? O presente tem os seus encantos nem sempre devidamente valorizados. Estamos mais livres das obrigações do gosto, menos elitistas e mais céticos. Há quem não goste disso. O culto do passado, no caso, serve como estratégia de distinção criando um “como nós éramos bons” mítico e consolador. Nunca mais seremos os mesmos. Eis o lema da juventude perdida. A vida continua. A cultura também. Menos mestres, menos discípulos, mais aventura. Tudo é permitido. A posteridade morreu.
Nesta edição do Caderno de Sábado, exploramos velhos nomes que se renovam como poetas: Augusto de Campos e Ferreira Gullar, do concretismo ao pós-tudo. Duas entrevistas para inventariar o passado, analisar o presente e arriscar o futuro. Campos está na área com novo e originalíssimo livro, “Outro” [Perspectiva]. Gullar brilha na poesia e barbariza nas crônicas com teor político na Folha de S. Paulo.
Exploramos também uma polêmica incandescente a partir do lançamento do livro de Michel Maffesoli e Hélène Strohl, “O Conformismo dos Intelectuais” (Sulina). Os autores atacam a eterna dependência dos intelectuais ao Estado máximo, defendem uma espécie de liberalismo comunitário, baseado em menos Estado e mais solidariedade de base, denunciam as universais estratégias de compadrismo e de covardia dos intelectuais, quase sempre prontos a joguinhos de conivência e a silenciar diante dos abusos da corporação, e falam em falência do Estado do Bem-Estar Social francês. Um tema totalmente explosivo.
O novo, como dizia a canção, sempre vem. O jornalista alegretense Tibério Vargas Ramos investe no romance com “Sombras Douradas” (AGE). Em resenha o professor Cláudio Mércio classifica a obra como expressão do “pós-modernismo gaúcho”. A tentação da perfeição só no passado é uma lente que deforma o olhar desde sempre. Depois da querela entre modernos e antigos, a controvérsia entre pós-modernos e modernos, sendo que os antigos agora são os modernos.
* Leia na íntegra em POESIA A ARTE DO POETA
** Leia na íntegra em LITERATURA UNIVERSAL - ARTIGOS E REPORTAGENS
Fonte: Correio do Povo/Caderno de Sábado/Juremir Machado da Silva (Coordenador Editorial) em 05/09/2015.