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A Poesia em Portugal no Século XIX e a Actual
A Poesia em Portugal no Século XIX e a Actual

 

A POESIA EM PORTUGAL NO SÉC. XIX E A ACTUAL

 

Gostaria de realçar o fascínio que Eça de Queirós ainda nos causa, sobretudo por transmitir uma ideia crítica do que foi a sociedade portuguesa do final do século XIX, tentando explicar essa frescura de eternidade para os tempos modernos da literatura portuguesa e dos novos escritores.

 

E não se pode falar de Eça de Queirós sem falar da geração a que ele pertenceu, a  chamada "Geração de 70" (1870), uma das mais importantes da cultura de Portugal. Vivia também nessa época o escritor Antero de Quental, escritor que exerceu enorme influência sobre Eça de Queirós e o grupo de Coimbra. Uma geração que tinha, aliás, a consciência aguda do atraso de Portugal em relação à Europa, (já nessa altura!), sobretudo em termos literários.

 

Ora, Eça de Queirós, assim como os jovens escritores realistas, estudou na Universidade de Coimbra, embora não tivesse participado com eles da polémica Questão Coimbrã nas Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, que foi o choque entre os novos escritores (mais identificados com as novas tendências realistas), e os velhos escritores românticos de Lisboa.

 

E o que houve nessas conferências? Bom, os autores, ao contrário do sentimentalismo dos românticos, pregavam a difusão de uma arte crítica, voltada para a realidade social, para o presente. Eça de Queirós proferiu uma Conferência (a 4ª entre 10) e apresentou as principais características realistas, destacando o papel da literatura enquanto veículo de denúncia dos desequilíbrios da sociedade. Inclusivé, para se ter uma breve ideia, nessa ocasião, influenciado pelas ideias deterministas, Eça afirmou:

 

“O homem é um resultado, uma conclusão e um procedimento das circunstâncias que o envolvem. Abaixo os heróis!”.

 

Creio que mais explícito não poderia ser, até porque na segunda metade do século XIX, formou-se um grupo de letrados que defendia uma renovação literária e política da sociedade portuguesa. Escritores como Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Teófilo Braga e Eça de Queirós (1845-1900), acreditavam que a arte e, essencialmente a literatura, tinha um papel militante. Os membros dessa geração defendiam uma literatura renovada, uma “revolução cultural”. Defendendo valores genéricos como a justiça, humanidade, igualdade e liberdade, esses letrados criticavam os rumos da monarquia liberal portuguesa e as suas consequentes mazelas morais, económicas e políticas.

 

Ora, falei deste episódio em concreto da Universidade de Coimbra e de Eça de Queiroz porque gostaria de evidenciar que, tantos anos depois, pouco ou nada mudou, a não ser que o nacionalismo exacerbado há muito desapareceu e apenas se vê alguns focos aquando dos jogos de futebol da Selecção Portuguesa, quando ouvimos de pé “A Portuguesa”, o nosso famoso hino.

 

Afinal, qual o nosso papel enquanto escritores/poetas/autores no panorama actual da literatura? Que tipo de criticas temos feito à cultura em Portugal e o que temos feito efectivamente na prática? É que teorias levam-nas o vento e, salvo muito poucas excepções, pouco ou nada se tem feito pela defesa da nossa cultura. Bom, terei de concordar que a chamada Revolução dos Cravos (Abril de 1974) trouxe consigo a abolição da censura e uma maior divulgação das obras literárias. Aumentou também o número de prémios literários para primeiras obras e para a consagração de carreiras. Mas o certo é que a divulgação da literatura nas escolas continua a ser alvo de amplo debate, sendo praticamente impossível chegar-se a uma conclusão sobre que autores incluir nas cadeiras ligadas à língua e cultura portuguesa. Além disso, os hábitos de leitura nunca foram grandes (e, sobretudo, nunca foram devidamente fomentados) entre os Portugueses, embora haja aumentado o número de bibliotecas. Tem havido mais tertúlias onde essencialmente os poetas se reúnem na vã tentativa de mostrarem as suas obras e não deixarem morrer a poesia em Portugal. Alguns jovens autores, muito em especial na área da poesia, têm sido bem-sucedidos na aceitação dos seus trabalhos, não descurando uma linguagem mais próxima da que é usada no dia-a-dia pelas camadas mais jovens e procurando formas actuais de divulgação das suas obras através das redes sociais. Mas, será que chega? Concordarão comigo que não. E lamento ainda que não haja uma classe política ou alguém na pasta da Cultura capaz de baixar o preço dos livros para incentivar o povo português à leitura ou promover nas escolas a escrita como forma de perpetuar a nossa língua.

 

É que a transição do séc. XX para o séc. XXI testemunha também o aparecimento duma literatura leve (frequentemente chamada de "light"), fenómeno algo recente em Portugal mas desde há décadas bastante comum noutras latitudes e que, se bem que recebida, no mínimo, com reticências por parte dos círculos mais letrados, trouxe, pelo menos, a vantagem de ter conseguido atingir assinaláveis volumes de vendas. O certo é que, até hoje, não há uma nova geração de escritores que, como Eça de Queiroz, nos fale do papel da literatura enquanto veículo de denúncia dos desequilíbrios da sociedade e nos mostre textualmente, tal como o fez também Eça de Queiroz e tantos outros escritores do sec. XIX, a consciência aguda do atraso de Portugal em relação à Europa, sobretudo em termos literários.

 

Afinal, será que, tal como disse no início deste texto, a frescura de eternidade para os tempos modernos da nossa literatura que Eça encetou já acabou há muito ou conseguirão os escritores/poetas em pleno ano de 2014 mostrar capacidade para gerarmos um novo movimento literário que não deixe morrer a nossa literatura?

Por João Bernardino